Resenha Vivência Dança Tribal Ritualística: Despertando a Medicina do Fogo
Quando pensamos no elemento fogo, diversas imagens, referências e conexões podem se abrir. O fogo é um dos elementos mais fascinantes que existem. Ao mesmo tempo que aquece, ilumina e reúne, pode também queimar, destruir e purificar. Seu caráter mutável, instável, serpentino, pode transformar e transmutar. A reunião ao redor da fogueira, o milagre do fogo criado na Terra apenas pelos seres humanos, certamente está entre um dos mais antigos rituais já feitos pela humanidade. Um conhecimento que talvez seja ainda pouco consciente é que o fogo é um elemento ligado ao feminino. Muitas tradições, filosofias e culturas relacionam este elemento ao Sol e sendo assim, ao princípio masculino. No entanto, para muitas sabedorias ancestrais o feminino é o princípio guardião do fogo na Terra, bem como de seus ritos e simbologia. O próprio útero é considerado o recipiente do fogo alquímico criador da Vida. Na ciência do Yoga, Kundalini é a consciência desperta do fogo criativo em nossa existência e é associada ao princípio do Feminino Sagrado Supremo: Shakti. A energia calorosa e pulsante que existe nas profundezas da Terra é chamada Kundalini Shakti, divindade feminina ígnea que dá vida e força a tudo o que existe. Na mitologia grega, Héstia é a Deusa do Fogo, relacionado ao lar e às lareiras que aquecem as casas. Antigamente na história da fundação das cidades gregas, as pessoas acendiam grandes fogueiras à esta Deusa pedindo a sua proteção de infortúnios. Na Kabbalah, o 'shin' é a letra de 'esh' - fogo, que no Livro da Criação - 'Sefer Yetzirah', é descrita como uma das três "letras-mães" do alfabeto hebraico. Presente em alguns dos 72 nomes sagrados, essa letra e esse fogo representam a força vivificante feminina antiga e primal. Nas tradições nativas norte-americanas o Fogo Sagrado está relacionado à conexão entre a Mãe Terra e o Avô Sol, símbolos das polaridades Yin-Yang, e por tanto também ligados à sexualidade e relacionamentos. A nossa paixão física provém do Fogo interior de nossa Mãe Terra. Esta forma de Fogo Sagrado preenche nossos corpos com disposição e vitalidade, suporta a expressão de nossa sexualidade e manifestação criativa. Permitimos que esta União Sagrada entre as polaridades ocorra dentro de nós, quando o livre fluir ascendente do amor de nossa Mãe Terra, através dos pés e do canal central de nossa coluna, siga seu caminho natural até o Sol Central. Um dos sintomas mais evidentes de quando entramos neste estado de êxtase alquímico, é o calor que sentimos em nossos corpos. No Xamanismo, acender fogueiras e dançar ao redor delas também ajuda a trazer a presença do fogo que aquece o corpo enquanto o Espírito se movimenta pela Dimensão dos Sonhos. Nessas condições, o Espírito-Xamã pode ir e voltar com a segurança do corpo físico ficar bem, enquanto ele faz a viagem de resgate da sua inspiração e criatividade. O fogo e a ciclicidade da mulher também se relacionam intimamente. No arquétipo da Donzela, o fogo tem característica criativa, ativa, vital, traz pureza e foco (palavra que deriva do latim 'focus' = lareira, local de fazer fogo numa casa e se reunir ao redor de um ‘foco comum’). No arquétipo da Mãe o fogo está representado nas características de acolher, aquecer, nutrir, manter, unir. Como a faceta Feiticeira da mulher, o fogo pode ser instável, destrutivo e criativo, transformador, transmutador, sedutor e inspirador, além de abrir a intuição. Como arquétipo da Anciã/Bruxa o fogo traz sabedoria, presença e clareza. Além do poder de reunir pessoas ao redor de sua luz e calor para ouvir e contar histórias, comer, meditar, rezar e dançar. Em nossa vivência introdutória de Dança Tribal Ritualística, aberta à quem quiser conhecer esta arte bio-psico-terapêutica-espiritual, no dia 05/08/2018, sob o Sol no signo de Leão, acenderemos, invocaremos e evocaremos as bençãos desta poderosa manifestação ancestral: O Fogo Sagrado. Que sua luz guie nossos passos dançantes e aproxime todas as mulheres que sentem o chamado para fazerem de suas danças uma oração ao Fogo!
Texto por Carla Brasil & Marilia Lins